Lisboa à Queima-Roupa — "Será que o problema sou eu... ou só tenho medo de ser difícil de amar?" [🦅Arda #5🦅]

 

"Trabalho arduamente e deixo o resto nas mãos do destino"

Há dias em que acordo e me sinto leve. Capaz. Bonito, até. E depois há outros em que só me vejo através dos olhos de quem não me escolheu. Como se o reflexo estivesse contaminado por todas as vezes que fui quase, que fui talvez, que fui "amo-te, mas..."

Não sei quando é que comecei a achar que amar-me devia ser um trabalho hercúleo. Talvez tenha sido naquela vez em que ele disse que eu complicava tudo. Ou quando o outro me acusou de "levar tudo demasiado a peito". Talvez tenha sido aos poucos, uma crítica aqui, um abandono ali, até que a ideia se instalou como uma infiltração no teto: discreta, mas constante. E um dia... já era parte da estrutura.

Não pude deixar de me perguntar: sou eu o problema?

Sou demasiado intenso? Exigo demais? Sinto demais?

Ou será que tenho medo? Medo de ser difícil de amar. Medo de que alguém veja as minhas falhas, os meus silêncios inseguros, os meu ciúmes pequeninos, os meus momentos de caos... e desista. Como todos os outros fizeram. Como eu às vezes acho que eu próprio faria, se pudesse.

Mas também, e isto custa admitir, há uma parte de mim que acredita que ser difícil  é o que me protege. Porque se eu acreditar que sou difícil de amar, já tenho a desculpa pronta para quando alguém não fica. É uma fuga, disfarçada de racionalidade.

E no entanto... há dias em que alguém de olha e eu quase acredito.

Quase acredito que ser sensível não é um defeito. Que ser intenso não é demais. Que querer amor com profundidade não é carrência, é coragem.

Talvez o problema não seja eu. Talvez o problema seja este mundo de amores rápidos, de mensagens adiadas, de relações que não chegam sequer a ser definidas. Um mundo onde pedir sinceridade parece exigência. Onde querer um amor que fique soa a fraqueza.

Talvez eu não seja difícil de amar. Não sei. Não posso pensar muito tempo sobre isso.