Ninguém nos avisa que o amor também expira. Vem sem rótulo de validade, sem data impressa na pele. Um dia acordas e ainda há promessas, planos, a chávena de café partilhada. No outro, há silêncio. Há uma distância emocional que ninguém consegue medir ao certo - mas que se sente no olhar, na conversa, no corpo inteiro.
As pessoas mudam porque estão vivas, porque são seres-vivos. E o que vive, move-se. Às vezes para mais perto, às vezes para longe de quem juraram nunca largar. Mudam porque se fartam, porque se perdem, porque descobrem que o que parecia grande afinal era pequeno. Ou porque simplesmente querem outra coisa, outra pessoa, outra rotina onde não caibamos.
O mais cruel? É que raramente é por mal. Não há conspiração, não há plano. Há um dia em que já não faz sentido - mas nós, do outro lado, ficamos a rasgar pétalas de margaridas, a perguntar "em que momento foi?". E não há momento, só há o depois.
O que fazemos, então? Pedimos explicações que não nos convencem? Repetimos cenas antigas como quem rebobina um filme já gasto. Tentamos caber outra vez, forçar, onde já não há espaço. É feio de ver - e quase toda a gente já o fez.
Lidar com isso é engolir o ego, guardar a raiva num bolso que não se abre facilmente. É resistir à tentação de pedir mais uma conversa, mais uma noite, mais um beijo de caridade. É perceber que a dignidade, às vezes. é ficar sem nada - mas de pé.
E mesmo assim, quem fica a ver o outro ir, raramente sai ileso. A culpa cola-se aos ossos: "Onde falhei?", "Porque é que não fui suficiente?", "Será que se eu tivesse mudado primeiro...?". E a resposta, quase sempre, nunca chega.
As pessoas mudam por pura necessidade; é a natureza humana. E isso é um risco que aceitamos cada vez que abrimos a porta, cada vez que damos a chave, cada vez que deixamos alguém ver quem somos sem filtros.
No fim, resta ficar com o que sobra: nós. É pouco? Sim. Mas é nosso. E há um dia - mesmo que ele demore a chegar - em que percebemos que também mudámos. Já não queremos quem não ficou. Já não doí como doía. E, estranhamente, o mundo segue.
E é aí que se vê: mudar pode doer, mas ficar parado magoa ainda mais. Talvez seja isso que ninguém nos diz: que amar é aceitar o risco de perder - e perder é o único jeito de não nos perdermos a nós próprios.
Incrível texto novamente!! Mas estar consigo mesmo não é pouco não, pode ser imenso!
ResponderExcluirÓtimo texto, novamente!!! Realmente, mudar dói, mas não tem caminho se não em frente!
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