Lisboa à Queima-Roupa — "Os relacionamentos acabam quando começam?” [🦅Arda #3🦅]


"Trabalho harduamente e deixo o resto nas mãos do destino"


Há dias em que acho que os relacionamentos não acabam no fim - acabam logo no início. No exato momento em que alguém diz "não estou à procura de nada sério, mas vamos ver no que dá". No instante em que aceitamos metade, convencidos de que um dia virá o resto.

É estranho pensar nisto assim, mas quantas vezes ficamos à espera de algo que, no fundo, já sabemos que não vai chegar? Quantas vezes disfarçamos bandeiras vermelhas de coincidências, silêncios de timidez, falta de mensagens de "ele deve estar ocupado"?


Não pude deixar de me perguntar: será que, quando dizemos "sim" ao primeiro café, já estamos a escrever o último adeus? Será que, no momento em que sentimos aquele frio na barriga, devíamos também sentir medo de onde aquilo vai parar?

Lisboa é perita nisto - romances que nascem a um sábado à noite e morrem numa segunda de manhã. Pessoas que prometem universos que não cabem no dia seguinte. Beijos que sabem a tudo, mas não ficam para o pequeno-almoço.


Talvez, o problema não seja o fim, mas a forma como insistimos em ignorá-lo quando o início é tão bonito. Queremos acreditar que desta vez é diferente, que os sinais não são sinais, que a intuição está errada.

E talvez, no fundo, seja por isso que ficamos. Porque é melhor ter o início do que não ter nada. Melhor a promessa do que o vazio. Melhor o quase do que o eclipse total.

Mas quando o quase se esgota - e esgota-se sempre - sobra só o que sempre esteve ali: nós. O café frio, o telemóvel em silêncio, a pergunta entalada na garganta: "Porque é que eu fiquei, se já sabia?"


No fim, talvez os relacionamentos não acabem quando começam. Talvez eles já venham com prazo, mas nós é que não queremos lê-lo. Porque, enquanto dura, enquanto há uma mensagem por responder, um copo por acabar, ainda estamos felizes, e ainda podemos fingir que isto não é o fim - ainda não.

E assim vamos andando. Entre o que podia ser e o que nunca vai ser. Até termos coragem de sair do início - e começar outra coisa, em que o fim não venha escrito logo na primeira frase.


Bom, um pequeno aparte: peço desculpas pela ausência da coluna esta passada segunda-feira, tive uma obrigação a nível dos meus pelouros partidários e não consegui publicar.

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