Lisboa à Queima-Roupa — "Porque é que somos sempre reduzidos a segundo plano?" [🦅Arda #12🦅]

 


    Não sei se é azar, karma, ou simplesmente má gestão de expectativas, mas parece que há sempre alguém ou alguma coisa mais importante do que nós. Somos prioridade até certo ponto, até que aparece um namorado novo, uma pessoa mais excitante, uma viagem de última hora, um trabalho que afinal "não pode esperar". E nós? Ficamos na prateleira, a apanhar pó, naquele lugar invisível entre o indispensável e o descartável.

    O mais curioso é que raramente isso é dito em voz alta. Ninguém nos olha nos olhos e diz "tu és plano B". Mas sentimos. Sentimos no atraso das respostas, nos convites que chegam tarde, nas desculpas que parecem catálogos de improviso. O mundo social de hoje tem um talento especial para nos fazer acreditar que somos importantes - até ao momento em que alguém mais interessante entra em cena.


    Talvez o problema não seja só o outro, mas esta cultura de urgência em que vivemos e criámos. Tudo é instantâneo (até as massas que comemos), tudo é substituível, e as pessoas aprenderam a viver como quem passa canais de televisão: nunca se fixam demasiado, porque pode estar a dar algo melhor noutro lado. E nós, convencidos de que somos a série principal, descobrimos, a meio da temporada, que afinal somos apenas um episódio para encher.

    O que dói não é apenas a substituição, é a normalidade com que ela acontece. Mas eu também já tinha falado disso. Como se fosse óbvio que, numa hierarquia invisível, estaríamos sempre abaixo de quem traz frescura, novidade ou qualquer traço que desperte entusiasmo imediato. É como se a nossa presença acumulasse desgaste enquanto a do outro brilhasse por ainda não ter sido testada.


    E, no entanto, continuamos. Continuamos a atender chamadas, a marcar cafés, a estar presentes quando mais ninguém está. Porque, mesmo em segundo plano, queremos fazer parte do filme. Talvez seja isso o mais ridículo: aceitar um papel menor só para não ficar de fora do elenco.


    No fim, ser reduzido a segundo plano não é uma questão de ego. É uma questão de valor. Porque uma coisa é sabermos que não podemos ser prioridade sempre (e tudo bem!); outra, muito diferente, é percebermos que nunca o fomos.

Comentários

  1. Incrível como você conseguiu encontrar uma brecha pra criticar o miojo da Turma da Mônica no texto

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  2. "aceitar um papel menor só para não ficar de fora do elenco"
    ARDA VOCÊ PODERIA PARAR DE ME ATACAR DIRETAMENTE COM ESSAS INDIRETAS? HAHA
    Agora falando sério: é bem isso mesmo, é uma tristeza, mas às vezes aceitamos um papel bem menor que o nosso, só pra não ficar sem papel algum nesse grande teatro maluco que é a vida...

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