Lisboa à Queima-Roupa — "Ser substituído" [🦅Arda #6🦅]

  

"Trabalho arduamente e deixo o resto nas mãos do destino"

Não há nada a fazer quando somos substituídos. A pessoa seguiu em frente - com outra face, outro cheiro, outra voz a ocupar o espaço onde antes éramos nós. E o pior nem é o facto em si. É a facilidade. A rapidez. O aparente desinteresse. Como se não tivéssemos pesado o suficiente para deixar marca. O lugar que eu ocupava afinal não era meu, era só alugado, sem contrato, com despejo imediato.

Ela agora ri-se das piadas de outra pessoa. Toca-lhe o braço da mesma maneira. Talvez lhe diga que é "diferente", como me disse a mim. E tu ficas ali, a ver tudo de fora, como quem vê a própria casa ser redecorada por outra mulher.

E perguntas: sou substituível?

Sim. És. E isso não é bonito, não é justo, não é inspirador. É uma merda.

Somos substituíveis não porque somos fracos, desinteressantes ou pessoal em segunda mão, mas porque o mundo está cheio de gente. E no meio do caos, ninguém tem tempo para eternizar ninguém. Há quem nós conversemos todos os dias em Março e depois já estejam com outra pessoa em Junho, como se o tempo entre um corpo e outro fosse só uma pausa para respirar.

É feio, mas é assim. Como se tu não tivesses existido.

Sentimo-nos especiais até deixarmos de ser. O nosso nome passa de notificação para silêncio. As memórias, que para nós ainda estão quentes, para o outro já são arquivo. E o lugar que achavamos ser nosso é arrendado a outra pessoa.

Não há grande moral aqui.

Podes tentar distrair-te, fingir que não te importa, morder a lingua até sangrar, sair com alguém só para mostrar que também sabes "seguir em frente". Mas nada disso muda o facto: foste substituído.

E a única coisa que resta é conviver com isso. Não digerir. Não ultrapassar. Só... viver. Até ao dia em que, sem aviso, deixas de pensar tanto nisso. Não porque superaste, mas porque a dor se cansou de repetir-se todos os dias.

E isso, às vezes, é o mais perto que conseguimos chegar da paz.