Durante muito tempo, eu achei que o amor era uma espécie de eleição. Uma votação silenciosa onde tudo o que podias fazer era ser a melhor versão de ti mesmo e esperar que alguém, algures, colocasse o boletim certo na urna. Que alguém te escolhesse. E não de forma casual, ou prática, ou confortável - mas com convicção. Com intensidade. Como se tu fosses a resposta a uma pergunta que ele nem sabia que estava a fazer.
Mas esperar ser escolhido tem o seu preço - e, com o tempo, percebi que é um jogo viciado. Porque ninguém nos diz que, muitas vezes, o lugar de "escolhido" vem com condições: sê menos emocional, sê mais leve, sê menos exigente, sê divertido mas não carente, apaixonado mas não pegajoso, misterioso mas disponível. E enquanto nos vamos ajustando a todos esses pequenos avisos, começamos lentamente a abandonar a única coisa que nos fazia únicos: nós próprios.
Eu queria ser daquele que ficava. O que deixava uma marca. O que transformava os indecisos em crentes e os distantes em comprometidos. Mas o problema de querer ser escolhido por toda a gente é que acabas por não saber quem és para ti.
E um dia, numa relação que se evaporou num fechar de olhos e num combinado onde fiquei à espera feito idiota, percebi: eu estava viciado na ideia de ser validado por alguém que não sabia me entender e, pior, por alguém que provavelmente nunca pensou em mim com a mesma profundidade com que eu o tentei interpretar.
Foi então que me ocorreu - como um estálo que não dói, mas acorda - que talvez o problema não fosse não ser escolhido. Talvez o problema fosse continuar à espera que isso acontecesse, como se alguém, algures, o fosse fazer. Então, só me restou escolher-me a mim próprio.
E não, isto não é uma autodepreciação. É uma exigência emocional. Uma conclusão que, quando tomada como verdade, muda o rumo todo da coisa. Porque deixar de querer ser escolhido não significa tornares-te frio, ou cínico, ou fechado. Significa que, a partir de agora, estás disposto a ficar contigo, mesmo quando mais ninguém o faz. Que não te vais moldar à medida de ninguém. Que já não precisas de te anular em nome de um amor que, na verdade, não te entende e não te vê inteiro.
Afinal, talvez a pergunta nunca tenha sido sobre ser escolhido, mas sobre deixar de viver à espera. E nesse instante, sem drama nem cerimónia, escolhi-me. Não por orgulho. Não por vingança. Mas porque já não fazia sentido continuar a oferecer o meu lugar a quem nunca chegou para ficar.
POST NECESSÁRIO!!
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