Lisboa à Queima-Roupa — "Será que existem homens em Lisboa que servem só para nos sentirmos mal connosco mesmos?" [🦅Arda #10🦅]
Lisboa tem um problema. E talvez seja só comigo. Mas, por esta altura, começo a acreditar que existe um certo tipo de homem por aqui cuja unica função no universo é servir de lembrete de que não somos, e talvez nunca seremos, tão bons quanto eles. Não é só a beleza, embora haja sempre aquele bronze impecável que não parece vir de praia nenhuma onde eu já tenha estado. É o conjunto. É o cabelo perfeito mesmo num dia de vento. é o sorriso fácil que não soa ensaiado. É a carreira que avança ao ritmo de um metro: rápido, barulhento e sempre na direção certa.
Eles chegam a um jantar e, de repente, a sala muda. Não precisam de fazer nada. Basta existir. As conversas inclinam-se para o lado deles, as atenções flutuam como se tivessem gravidade própria. E nós, meros mortais, ficamos ali, a bebericar vinho e a tentar não parecer que estamos a competir. Mas estamos. Sempre estamos. É impossível não medir a altura da nossa sombra quando a deles tapa metade da parede.
A pior parte é que, normalmente, são boas pessoas. O que significa que nem sequer podemos odiá-los de forma saudável. Se fossem arrogantes, teríamos uma desculpa para o desprezo. Mas não: são simpáticos, bem-humorados, perguntam pela nossa vida como se se importassem. E, nesse cuidado despretensioso, conseguem fazer-nos sentir ainda mais pequenos, porque nos lembram que, mesmo quando são melhores que nós em tudo, ainda sobra espaço para serem mais generosos.
Lisboa está cheia destes espécimes: o homem que corre mais depressa, que sabe mais de vinhos, que tem melhores histórias para contar, que se veste melhor, que conhece sítios onde nós nem sabíamos que havia portas. E cada vez que cruzo um deles, dou por mim a ensaiar justificações invisíveis: "não é inveja, é admiração", "não é competição, é inspiração". Mas, no fundo, sei que é uma mistura dos dois.
Talvez o verdadeiro teste de autoestima não seja enfrentar quem nos critica, mas sim sobreviver a quem é tão bom que, sem dizer uma palavra, nos faz sentir insuficientes. E, até conseguir isso, continuo a perguntar-me se Lisboa é mesmo assim... ou se fui eu que escolhi nascer na cidade errada para o meu ego.
Nota de Agradecimento:
Sendo o décimo episódio, não podia deixar de agradecer por todo o apoio que recebi com a minha coluna e, para celebrar, tive de falar da minha lindíssima cidade para terminar esta temporada, obviamente! Começa, agora, a segunda temporada do LAQR, que vai ser muito mais risqué e mais intensa. Espero que gostem!
I ♡ LX
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