Há uma época do ano em Lisboa em que, mesmo antes da primeira folha cair, já sentimos a estação a mudar. O ar fica mais seco, os dias mais curtos, o verão já se foi. E, na primeira noite depois de muitas noites quentes, sentimos necessidade de colocar mais um cobertor na nossa cama. Mas isso não é tudo. Por outro lado, e por alguma razão banal, percebemos que algo terminou – uma época, um ciclo, uma fase da nossa vida. E não falo só de estações, falo de relações, amizades, pessoas que já não estão, ou que, de repente, deixam de ser tão importante para nós.
Foi numa noite assim, em que voltei a puxar um cobertor para a cama depois de meses de calor, que dei por mim a pensar no destino. Esta ideia quase absurda de que não somos nós que controlamos o rumo da vida, de que está tudo escrito algures, como se cada encontro, cada beijo, cada perda, viessem já encomendados de um catálogo cósmico e, assim, não pude deixar de me perguntar: podemos dar um passo em falso e sair da nossa galáxia? Será que podemos cometer um erro e… perder o nosso destino?
E se, de facto, existir um caminho traçado? O que acontece quando nos desviamos dele? Será que basta um silêncio mal calculado, uma mensagem nunca enviada, um gesto que adiámos tempo demais... para perder aquilo que estava destinado a ser nosso?
Chamamos maturidade àquilo que, muitas vezes, é apenas contenção. À capacidade de engolir a palavra atravessada, de sorrir quando a vontade era sair da sala, de fingir que a indiferença não nos afeta. No fundo, ainda somos os mesmos – apenas com 2500 quilómetros de desvio do caminho que nos foi destinado. Mas e se, no meio dessa contenção, estivermos a falhar as curvas certas, os instantes decisivos que podiam ter mudado tudo?
Porque, talvez, os erros sejam mesmo aquilo que nos molda. Talvez, se nunca tivéssemos saído do caminho, não teríamos amado, perdido, sobrevivido. E se ser adulto significa mascarar a dor com frases curtas e leves – “está tudo bem”, “faz parte”, “a vida que segue” – então talvez crescer seja apenas isto: dar nomes mais elegantes à mesma solidão de sempre.
Mas enfim. Foi naquele dia em que decidi ir correr à Ericeira, a horas de casa, que percebi que, muito provavelmente, o destino não se deixa decifrar nem descobrir.
É oficial. Uma nova estação chegou. Talvez os nossos erros façam o nosso destino, talvez não. Sem eles, o que é que moldaria a nossa vida? Possivelmente, se nunca nos desviássemos do nosso caminho, não nos apaixonaríamos, nem teríamos filhos, nem seríamos quem somos.
Afinal das contas, as estações mudam. As cidades também. As pessoas entram na nossa vida, e as pessoas saem. Mas é agradável saber que os que nós amamos estão sempre no nosso coração, e, se tivermos sorte, a um voo de distância.
Nota de Agradecimento:
Bom, esta é a minha entrada de despedida (a minha saída, portanto). Nunca pensei que isto fosse acontecer, muito menos tão cedo assim. Tenho muito a agradecer aos meus amigos: Andrew, Marina, Gusy, Mafi, Madu, David, Eiji, Toji, Mirae, que sempre estiveram perto de mim e sempre me ajudaram. Sem vocês, o BRS48 não teria a piada que um dia já teve. Tenho esperança de que, um dia, o grupo tenha a possibilidade de respirar novos ares, e ver novas coisas. Quando quiserem, estou aqui para vos receber em Lisboa.
Infelizmente, não consegui fazer do BRS a minha casa. Não importa se foi por motivos independentes a mim ou não, porque folgo em saber que vocês, meus camaradas, conseguiram encontrar casa aqui, e estão felizes aqui. Eu vou continuar a escrever no meu blogue oficial do Substack. Sou vos grato por tudo. Obrigado.
I Heart BRS

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