Há dias em que tudo parece encaixar. A conversa flui, o riso sai sem esforço, a luz entra pela janela com a temperatura certa, e por um segundo acreditamos que é isto, é este o momento que vamos guardar. Mas, inevitavelmente, é também o momento em que o meu cérebro decide interromper a festa para me lembrar de que nada dura para sempre. É como se, em vez de me sentar na primeira fila para ver o concerto, eu estivesse nos bastidores a espreitar o relógio, já a pensar em quando é que as luzes se vão apagar. E, pior, é como se essa contagem decrescente fosse mais intensa do que a própria música.
Passei demasiado tempo a viver na antecipação do fim. O fim de um namoro, o fim de uma amizade, o fim de um verão, o fim de uma noite perfeita em que já sabia que iria acordar sozinho. É como se a minha cabeça fosse um trailer de más notícias: "em breve, este momento maravilhoso vai desaparecer, e vai voltar a estar infeliz. Prepare-se psicologicamente". E, no meio dessa preparação, perco o essencial: o momento ainda está aqui, mas eu já me fui embora.
Talvez seja uma forma de autoproteção, uma defesa emocional de quem já sabe que o chão cede. Se eu já estiver pronto para perder, talvez não doa tanto. Mas a verdade é que dói sempre. Não importa o quão preparado achas que estás, quando chega, dói. Então, porque é que continuo a viver como se a felicidade fosse um copo de cristal prestes a cair da mesa, em vez de apenas beber o vinho enquanto ainda está na minha mão?
O mais cruel é que, no fundo, sei que um dia vou olhar para trás e perceber que estava feliz. Mas não vai ser memória de felicidade plena, vai ser memória de felicidade interrompida por uma ansiedade que roubou todo o prazer. É quase como tirar uma fotografia perfeita e depois escrever "isto vai acabar" no canto da imagem.
A vida não é generosa com momentos que valem a pena. E talvez por isso sejam tão frágeis. Mas se a fragilidade é inevitável, talvez a única escolha que me reste seja andar na corda bamba sem pensar no chão que há lá em baixo. Porque o momento, eventualmente, vai acabar.
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